O meu fascínio pelo universo imaginário reverbera no conjunto de imagens recorrentes em meu trabalho, como o céu, o quintal, a casa. São lugares afetivos que registro com uma câmera analógica e, às vezes, digital. A utilização da técnica da dupla exposição sobrepõe as várias camadas do meu imaginário, do meu universo sensível e da memória. O processo se inicia quando encontro com o vestido de infância que minha mãe costurou quando eu tinha 07 meses de idade. Essa descoberta desvela as várias camadas que se manifestam nas questões dos duplos objeto-vestido e o corpo-sujeito.
Os meus ensaios criam uma concepção do universo feminino a partir da experiência familiar e pessoal cuja essência é efêmera, onírica e expressa imageticamente em séries fotográficas de caráter narrativo, influenciadas pela linguagem do cinema. A imagem traz o próprio gesto, a ausência física e o silêncio da memória presente em sequências como narrativas nãolineares, descontruindo o olhar sobre elementos como o vestido, o corpo, o céu, a natureza. Nessa construção tramito entre o mundo construído e o mundo sonhado, tratando o real e o sonho como metáforas.
Os espaços que contém as cenas estão impregnados de rupturas do tempo e de espaços afetivos, trazendo memórias e sensações desde onde habita a ausência do corpo físico.
A minha produção tem um vínculo íntimo entre a existência do sujeito e a projeção nos objetos (vestidos). É o resgate de peças íntimas que reflete lembranças fragmentadas do sonho, do devaneio e do inconsciente que vive na imaginação e no imaginário.
Por isso a escolha da junção de diversas imagens, como ato da minha criação. Renovame e motiva para elaborar procedimentos técnicos e estéticos para chegar ao resultado final, na montagem como recurso da construção poética. A fotomontagem de duas ou mais fotografias e a manipulação tem o anseio de causar a sensação de um plano tangível e transparente.